Agropolítica

Plano Safra: Ex-secretários de política agrícola apontam falhas e inseguranças 

Recurso de R$ 18 bilhões do BNDES com variação cambial é considerado ineficiente diante da conjuntura geopolítica

O Plano Safra 2025/2026, anunciado nesta terça-feira, 1, pelo governo federal, foi considerado insuficiente por dois ex-secretários de Política Agrícola do Ministério da Agricultura consultados pelo Agro Estado.

José Carlos Vaz, que esteve à frente da secretaria em 2011, e também é colunista do Agro Estadão, chamou a atenção para o risco que médios produtores rurais podem sofrer nesta nova safra. “Muito prejudicado pela taxa de juros, o plano acabou criando um vácuo e uma insegurança de renda para os médios produtores, que ficaram fragilizados neste ano safra que se inicia”, disse.

O motivo, segundo Vaz, se dá por conta das taxas de juros, que tiveram uma elevação de 8 a 10% para os médios produtores e de 12 para 14% para grandes produtores. Ele ainda aponta a ausência do seguro rural e de uma política de garantia de preço como pontos que deixaram essa categoria de produtores mais desassistida com o plano.

Para os grandes produtores, Vaz alerta para o risco de usar os R$ 18 bilhões anunciados pelo BNDES com variação cambial. “Pode ser uma armadilha, não parece ser uma boa medida, diante da conjuntura geopolítica. É melhor fazer barter, com taxas livres no crédito rural, de preferência pós-fixado”, aconselha.

Baixa aplicação dos recursos

Para Ivan Wedekin, que foi secretário de Política Agrícola no primeiro mandato do presidente Lula, o plano anunciado é uma repetição das últimas temporadas. O destaque, segundo ele, é o volume de recursos para agricultura familiar, que continua sendo prioridade dos governos nos últimos “20 anos”. Na safra 2002/2003, exemplificou, os recursos para os pequenos produtores foram de R$ 2,5 bilhões e, hoje, temos R$ 78,2 bilhões.

Do plano empresarial, que é voltado para médios e grandes produtores, Wedekin contesta o anúncio de maior da história. O plano atual, de R$ 516,2 bilhões, é apenas 1,5% maior em relação ao anterior. Mas o mais relevante, na opinião dele, é o volume realmente executado. “No Plano Safra 24/25, que se encerrou ontem, o volume total de crédito aplicado foi de R$ 360,7 bilhões, segundo dados divulgados pelo Banco Central. Isso representa uma queda de 14,3% em relação aos R$ 420,7 bilhões disponibilizados no ano passado”, explicou.

Para exemplificar mais essa queda efetiva na aplicação dos recursos, Wedekin informou ao Agro Estado que o número de contratos de custeio caiu 18% na temporada passada,  “o que mostra as dificuldades do Plano Safra”.