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Exclusivo: diretor da Conab afastado em polêmica do arroz se defende e diz que não cometeu erro

1 minuto de leitura

21/06/2024 | 07:00

Por: Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com

Em licença remunerada, Thiago dos Santos conta que todas as semanas aplica alguma multa em empresas que não cumprem contratos com a Conab

O afastamento do diretor de Operações e Abastecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), logo após o cancelamento do leilão de arroz, não foi por conta das denúncias e sim, por questões pessoais. É o que garante Thiago dos Santos, em conversa com o Agro Estadão. “Saí para cuidar da minha família”, disse, por telefone. 

O executivo disse que a folga já estava programada para ajudar a esposa com o filho recém-nascido, e que a próxima saída marcada para julho é para conciliar com as férias escolares das crianças. 

Ele não se vê em risco de perder o cargo, assim como aconteceu com o ex-secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, devido às suspeitas de irregularidades no processo. “Não teve nenhuma conversa sobre me afastar. Eu não cometi erro de ética, de moral, nada”, afirmou.  

Thiago é ex-assessor de Geller, assim como Robson Luiz de Almeida França, dono da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e da Foco Corretora, que operaram o leilão pelas empresas ASR Locações de Máquinas e Veículos (DF), Zafira Trading (SC) e Icefruit Indústria de Alimentos (SP). As três arremataram 116 mil toneladas de arroz e teriam que apresentar 5% do valor da operação, se o leilão não tivesse sido anulado.

Sobre a demissão de Neri Geller, o diretor da Conab diz que concorda que as investigações precisam de transparência. Essa foi a justificativa dada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, para a saída do ex-secretário. Mas acredita que tudo não passou de um grande mal entendido e que não houve nenhum tipo de favorecimento no resultado.

“O Neri não sabe o que é leilão… o Neri sabe o que é PEP, Pepro, sabe de políticas públicas. Tenho certeza, também, que ele não sabia que o Robson estava operando esse leilão. PEP (Prêmio para Escoamento de Produção) e Pepro (Prêmio Equalizador pago ao Produtor Rural) são mecanismos do governo de ajuda ao produtor rural.

“Não dá pra saber se as empresas iriam entregar ou não”, diz diretor da Conab

As quatro empresas que venceram o leilão provocaram críticas e surpresa no setor produtivo, por não terem histórico de venda de arroz. Segundo Thiago dos Santos, elas têm o “comércio” no escopo de atividades secundárias – o que exigia o edital. 

“Eu não posso impedir uma empresa que tem no seu CNAE [Classificação Nacional de Atividades Econômicas] que é comerciante, de participar de um leilão”, diz Thiago. Segundo ele, a ASR já participou de outros leilões e venceu pelo menos um – o de milho, realizado em dezembro de 2023.

Questionado se acredita que as empresas são idôneas e iriam apresentar a garantia em dinheiro necessária para a continuidade do processo, o diretor da Conab diz que não é possível saber. 

“Nós não finalizamos o leilão. Não posso falar se a empresa A ou a B ia ou não entregar. Mas ela não vai botar uma garantia de 5 ou 6 milhões de reais se não vai entregar”, pondera. 

Conab aplica multa todas as semanas em empresas que não cumprem requisitos dos leilões

Thiago dos Santos está na diretoria de Operações e Abastecimento da Conab desde março de 2023. Ele conta que em 2024 já realizou 49 leilões – 46 aconteceram antes do certame polêmico do arroz. 

Ao lembrar que o dinheiro só é pago às empresas entre 10 e 20 dias depois que os produtos são entregues, o executivo destaca que as regras da companhia são rígidas. “Toda semana eu aplico multa em alguma empresa, principalmente de transporte”. Nesse caso, a punição acontece quando a contratada para entregar algum produto e não realiza o trabalho. 

Segundo Thiago, desde 2013 , a Conab já realizou mais de 400 leilões de compra – como o do arroz. E todas as vezes que não teve cumprimento de entrega de produto, a companhia aplicou multas. “A gente não tem dó. A gente não aceita interferência política nas penalidades que a gente aplica”, completa. Na conversa por telefone, ele lembrou de um caso em 2021, em que a empresa pagou uma multa de R$ 30 milhões por não fazer a entrega. 

À espera de um ponto final

O processo de realização de leilões pela Conab está sendo revisto pela companhia, em conjunto com a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU). O presidente da Conab, Edegar Pretto, já disse que está quase tudo pronto. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro defendeu, em mais de uma oportunidade, que o governo não pode ficar sabendo quem são as empresas participantes apenas no final dos leilões. 

A tendência é que o novo edital seja lançado apenas depois das investigações que o próprio governo está fazendo em torno do assunto e das negociações com representantes dos arrozeiros. Enquanto isso, o diretor da Conab diz que está pronto para realizar o leilão que for preciso. 

“Eu estou bem tranquilo, esperando que a CGU, a Polícia Federal terminem tudo, que façam o que têm que fazer, até para botar um ponto final nessa história”, afirma Thiago.

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Categorias: Agropolítica

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