Agro na COP30

COP diminui rusgas e aproxima setores de biocombustíveis e automotivo

Mistura B20 tem apoio de ambos os lados e ajuda em cumprimento de metas de redução das emissões de carbono

Há um mês do início da Conferência sobre o Clima (COP 30), em Belém (PA), 13 entidades representativas formalizaram uma parceria para promover os biocombustíveis como fonte de descarbonização. Nomeada de Biocoalizão, o grupo reúne setores que tempos atrás estavam de lados opostos, como os produtores de biocombustíveis e os fabricantes de veículos. 

“Se o Brasil pretende cumprir as suas metas, os compromissos [climáticos] que ele assumiu mediante a comunidade internacional, não há como fazer isso no setor de veículos sem a gente considerar os biocombustíveis. Não dá para a gente imaginar que nós vamos conseguir substituir a frota veicular brasileira por veículos elétricos num prazo de 15 a 20 anos, que são as datas que a gente precisa dos resultados”, afirmou ao Agro Estadão o diretor técnico da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Junior. 

O diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, reforçou que a ideia é tratar de uma agenda coletiva que coloca os biocombustíveis como solução. “Vai ser uma agenda que mostra que produzir mais biocombustíveis promove o desenvolvimento nacional e com uso assegurado por diversas montadoras. Vamos demonstrar toda a potencialidade da produção de energia, de alimento e de tecnologia no Brasil”, acrescentou. 

Além da Anfavea e da Ubrabio, a Biocoalizão é formada pelas seguintes entidades: 

As entidades terão um estande na Blue Zone durante os dias da COP, entre 10 e 21 de novembro. A ideia é fazer do local uma vitrine sobre os biocombustíveis brasileiros destacando a viabilidade técnica do uso deles como fonte energética para diferentes modais de transporte.

“Nós já estamos trabalhando isso com outros países, demonstrando que a nossa legislação, a Lei do Combustível do Futuro, o RenovaBio, a política do Selo Biocombustível Social, podem ser replicadas para outros países gerando uma redução da pegada de carbono. Basta ver o uso do biodiesel no transporte marítimo. Nós já temos experiência de 24% de biodiesel [adicionado ao combustível] no transporte marítimo, e nós podemos elevar essa mistura”, comentou Tokarski. 

A intenção também é rebater visões que colocam os biocombustíveis como concorrentes da produção de alimentos. “O objetivo é levar para o resto do mundo uma informação confiável, uma informação técnica e clara de como é a questão dos biocombustíveis no Brasil. E mostrar claramente que nós temos um produto, temos tecnologia e que estamos conseguindo um resultado claro”, disse o diretor da Anfavea

Montadoras apoiam B20

O percentual de mistura de biodiesel no diesel já foi um tema que colocou montadoras e usinas de lados opostos, diferente da realidade atual. “O passado fica para a história. Nós temos que olhar para o horizonte possível, e o horizonte possível é do desenvolvimento das oportunidades de termos aqui no Brasil, a exemplo do carro híbrido, outros veículos híbridos usando biocombustíveis”, avaliou o diretor da Ubrabio. 

Nesse horizonte, está a elevação do adicional de biodiesel dos atuais 15% (B15) para 20% (B20), conforme sugestão prevista na Lei do Combustível do Futuro. No caso das fabricantes de veículos, o entendimento é de que as diferenças estão sendo superadas e há um apoio comum entre montadoras e produtores de biodiesel para o aumento da mistura. 

“O biodiesel é um combustível que requer mais cuidado. E não existia isso antes. Recentemente, a ANP estipulou uma nova especificação para o biodiesel, onde uma série de cuidados com a comercialização foram adotados. E esses cuidados que foram adotados, hoje, fazem com que toda a cadeia tenha um cuidado muito maior no manuseio, na distribuição e com o uso dele. Isso trouxe uma tranquilidade enorme para os fabricantes de veículos […] Ainda é uma coisa que tem alguns pontos que precisam de alguma atenção, mas, genericamente falando, não há mais porque a gente segurar uma visão de que se pode aumentar realmente esse biocombustível”, destacou Junior.

Sobre o futuro da coalizão para depois da COP 30, os membros não chegaram a discutir como será e ainda pretendem avaliar os resultados obtidos com a iniciativa, revelou o representante da Anfavea. Porém, há “o interesse é de continuar com isso para frente”.