Inovação

Bactéria da caatinga ajuda a reduzir estresse hídrico nas lavouras

Testes em diversas regiões do Brasil mostraram que a nova tecnologia pode aumentar a produtividade em até 20%

O déficit hídrico é uma das principais causas de quebras nas safras brasileiras de soja e outros cultivos de verão. No início deste ano, a Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul informou que, nos últimos cinco anos, cerca de 34,4 milhões de toneladas de grãos deixaram de ser colhidas no estado devido à falta de chuva. 

Apesar do impacto significativo no Sul, a escassez de água também prejudica a produtividade de lavouras em diversas regiões do país. Para enfrentar esse cenário, pesquisadores desenvolveram uma tecnologia voltada a reduzir os efeitos do déficit hídrico nas lavouras. O produto cria uma espécie de reserva de água próxima às raízes, permitindo que as plantas mantenham sua atividade metabólica mesmo em períodos curtos ou prolongados sem chuva. 

Segundo especialistas, a tecnologia funciona como um ‘seguro’ que aumenta a estabilidade da produção frente a períodos de estiagem. “O Bioma Hydratus funciona como uma reserva de umidade que faz com que a planta não sofra com momentos de estresse pequenos ou até mais fortes… o produto, claro, não é uma irrigação, mas ele cria uma estabilidade maior por ser uma mitigador de estresse hídrico”, disse Jair A. Swarowsky, VP Comercial e de Marketing da Cogny, ecossistema que engloba a Simbiose e a Bioma. A tecnologia foi desenvolvida pela companhia em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Conforme o executivo, testes conduzidos em diversas regiões do Brasil indicam que a aplicação do produto pode gerar aumento de produtividade de 10% a 20%, dependendo da intensidade do estresse hídrico e do tipo de cultura. Em um exemplo citado por Swarowsky, uma lavoura de soja que rende cerca de 65 sacos por hectare, com o uso da tecnologia pode resultar em até seis sacos a mais por hectare.

Bactéria protetora

Ao Agro Estadão, Ivan Carlos Zorzzi, líder de desenvolvimento de mercado da Cogny, explicou que a tecnologia tem como base um ativo de uma bactéria isolada da Caatinga, que forma um espécie de biofilme ao redor das raízes da planta. Esse biofilme cria uma camada que retém água próximo do sistema radicular — responsável por fixar a planta no solo e absorver água e nutrientes. “Então, a planta, fisiologicamente, se ela tem água próximo da raiz, ela se mantém metabolicamente ativa”, salientou. 

Zorzzi destacou que, diferentemente de outras soluções no mercado, que apenas estimulam o crescimento da raiz, o Hydratus forma uma camada protetora que mantém a água ao redor das raízes — característica que, segundo ele, é o diferencial da tecnologia. 

Os dirigentes não comentaram o preço definido ao produtor, mas reforçaram que a tecnologia é aplicada no momento da semeadura, como parte do tratamento das sementes ou no sulco de semeadura — técnica agrícola que consiste na abertura de valas no solo para o plantio de sementes ou mudas.