Gente
Pequenos produtores, grandes histórias: a força da agricultura familiar
De queijo artesanal com leite de cabra à própolis vermelha que rompe as fronteiras de Alagoas, agricultores transformam desafios em oportunidades

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
25/05/2025 - 08:00

Na 30ª edição da maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, a Agrishow, o gigantismo das máquinas e as inovações tecnológicas dividiram espaço com trajetórias distintas, mas com uma essência em comum: a força da agricultura familiar, aliando inovação, sustentabilidade e identidade local.
No Pavilhão da Agricultura Familiar, que gerou R$ 2,5 milhões em faturamento neste ano, segundo levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), a história de Genivaldo Pimenta dos Santos, produtor de queijos de cabra, foi um dos destaques.
Após anos trabalhando na indústria, ele encontrou no campo uma nova vocação — motivada por uma necessidade da própria família. “Desde que a Marina, uma das filhas, era pequena, a gente visitava propriedades rurais em busca de uma solução para o que vivíamos na época”, contou ao Agro Estadão. “Procurávamos leite de cabra para consumo próprio e, nessas visitas, já imaginávamos que talvez, um dia, iríamos para o campo”, complementou.
Há sete anos, o desejo de anos atrás se tornou realidade. A família produz queijos artesanais com leite de cabra no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (SP). A rotina é tocada pela família: Genivaldo e a esposa, Daniele, cuidam da produção e organização, e as filhas, Marina e Helena, atuam na divulgação nas redes sociais.
“A gente coloca os vídeos, tudo no nosso Instagram, que é @cabanhacampestre53, onde vão todas as novidades das receitas”, explica Marina, que estava ajudando o pai no estande da Agrishow. “Eu dou algumas dicas para o meu pai na gravação dos vídeos para chamar mais a atenção do pessoal, e também valorizar o nosso produto da melhor forma”, disse.
Atualmente, os queijos da família são vendidos em feiras em Campinas e também na propriedade, que recebe visitas e atividades educativas com escolas. A iniciativa faz parte da Rota Turística do Queijo, promovida pela Secretaria de Turismo de São Paulo, que também viabilizou a participação da família na Agrishow, juntamente com a SAA. “Se nós tivéssemos que pagar, por exemplo, um estande como esse, ficaria praticamente inviável, pelo volume que a gente comercializa. Mas, sem dúvida nenhuma, essas iniciativas nos ajudam muito”, destacou Genivaldo.
O produtor ainda concilia o trabalho na indústria com a produção de queijos, no que para ele é um “processo de transição”. Porém, ele almeja, no futuro, viver totalmente dedicado ao que produz no campo. “Depender exclusivamente do campo é algo que é viável, é factível, é possível. Então, a gente espera que isso aconteça”, declarou.
Expandindo fronteiras da própolis vermelha
Em outro ponto da Agrishow, no estande do Sistema FAESP/Senar-SP, a bióloga Juliana Cecchetto apresentou a Rubee Apis, marca de própolis vermelha e verde, criada durante a pandemia.

Filha de apicultor, Juliana passou dois anos e meio no litoral de Alagoas capacitando apicultores e estruturando uma cadeia produtiva baseada em rastreabilidade, sustentabilidade e impacto social. Ao Agro Estadão, ela contou que não trabalha com apicultores extrativistas. “A gente cuida de todo o entorno das colmeias, do bem-estar das abelhas e da vegetação nativa. É uma produção comprometida com quem está na ponta”, explica a bióloga e diretora de qualidade da Rubee Apis. Atualmente, a companhia mantém parcerias fixas com cerca de dez apicultores, todos de Alagoas, garantindo compras mensais e estabilidade financeira aos produtores familiares.
O diferencial da Rubee Apis é a comercialização de própolis vermelha. Única no Brasil, com identificação geográfica no Nordeste, ela se destaca entre os tipos existentes — como a verde — por sua maior complexidade e potencial farmacológico. Ambas as própolis têm ação antimicrobiana, anti-inflamatória e antioxidante, mas a vermelha, extraída da planta rabo-de-bugio, possui cerca de 300 compostos bioativos.
Ela ainda pouco valorizada no mercado interno. Cecchetto explica que a própolis vermelha é, em boa parte, exportada. Mas a Rubee Apis está tentando reverter esse quadro ao oferecer um produto tipo exportação ao consumidor brasileiro. “Desde o começo [das produções], estamos trazendo para as regiões Sudeste e Sul porque a gente quer que o brasileiro também tenha esse produto como benefício”, afirmou.
A missão, segundo Juliana, é conscientizar o consumidor sobre o uso contínuo da própolis como modulador do organismo, e não apenas como remédio pontual. “Própolis não é só para dor de garganta, é algo para a vida toda”, reforça a fundadora.
Além disso, a empresa investe em inovação. Com apoio do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a bióloga iniciou uma pesquisa para aproveitar os resíduos da maceração da própolis como insumo para diferentes indústrias — de alimentos a cosméticos —, visando extrair o máximo dos compostos bioativos. A primeira fase do estudo termina em novembro deste ano, e os próximos passos incluem padronização, testes de estabilidade e aplicações setoriais.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Gente
1
Agricultores protestam em Porto Alegre por renegociação de dívidas
2
Das cozinhas da Europa às montanhas de Minas: como produtor multiplicou volume de leite em quase 10 vezes
3
Prorrogação das dívidas: veja o que é necessário e os pontos para ficar atento
4
Estudo mostra retorno de mais de 50% para cada real investido em compra de alimentos da agricultura familiar
5
Agro Estadão vence em duas categorias do Prêmio + Admirados do Agro
6
Conheça histórias de casais floricultores que investiram no setor motivados pelo amor

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Gente
Farsul pede prorrogação de 90 dias para dívidas de produtores gaúchos
Federação quer prazo para renegociar débitos do setor rural e propõe fundo emergencial com recursos do Pré-sal

Gente
Conheça histórias de casais floricultores que investiram no setor motivados pelo amor
Procura por rosas e kalanchoes movimenta vendas do setor, que devem crescer até 9% no Dia dos Namorados, projeta Ibraflor

Gente
Nota eletrônica passa a ser obrigatória para produtores rurais gaúchos a partir de julho
Obrigatoriedade vale para quem teve receita bruta superior a R$ 360 mil em 2023 ou 2024; a partir de janeiro, medida se estende a todos

Gente
Vai contratar mão de obra temporária na safra? Saiba as regras
A demanda por mão de obra temporária cresce e é importante saber como contratar legalmente
Gente
Prorrogação das dívidas: veja o que é necessário e os pontos para ficar atento
Produtores rurais poderão prorrogar pendências com vencimento neste ano 2025, desde que comprovem situação de perda de renda
Gente
Embrapa seleciona produtores para projeto de melhoramento da raça Brangus
Interessados devem enviar propostas até 30 de junho; iniciativa busca desenvolver linhagens com genética mais resistente e produtiva
Gente
MG: produtividade do café cresce até 28% com assistência técnica
Estudo comprova ganhos na produtividade e redução de custos nas propriedades de café e leite atendidas pelo ATeG
Gente
Serasa: inadimplência da população rural fica estável em 7,6% no 4º tri de 2024
No recorte por porte dos inadimplentes no último trimestre de 2024, os pequenos proprietários foram os menos atingidos, com inadimplência de 6,9%