Engenheira agrônoma é a primeira mulher do Brasil laureada com o Prêmio Mundial da Alimentação
A cientista Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja, será laureada com o Prêmio Mundial de Alimentação — World Food Prize (WFP) —, reconhecido como o ‘Nobel da agricultura’. A premiação é um reconhecimento pela relevante contribuição da brasileira no desenvolvimento de insumos biológicos para a agricultura. O anúncio ocorreu nessa terça-feira (13) na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos, criada pelo Nobel da Paz Norman Borlaug, pai da revolução verde.
“Estou imensamente feliz. Acredito que minha principal contribuição para mitigar a fome no mundo tenha sido minha persistência de que a produção de alimentos é essencial, mas deve ser feita com sustentabilidade. Foi uma vida dedicada à busca por altos rendimentos, mas via uso de biológicos, substituindo parcial ou totalmente os fertilizantes químicos. Com essa premiação, existe também o reconhecimento do empenho da pesquisa brasileira rumo a uma agricultura cada vez mais sustentável, favorecendo nossa imagem no exterior”, explicou, em nota, Mariangela Hungria.
O prêmio é destinado a quem contribui para o avanço da qualidade, quantidade ou disponibilidade de alimentos no mundo. A entrega da homenagem ocorrerá em 23 de outubro nos EUA. O laureado recebe US$ 500 mil e uma escultura projetada pelo artista e designer Saul Bass. Três brasileiros já foram agraciados com o prêmio WFP. A engenheira agrônoma é a primeira mulher.
Durante o anúncio, o presidente do Comitê de Seleção dos indicados ao Prêmio, Dr. Gebisa Ejeta destacou que “A Dr.ª Hungria foi escolhida pelas suas extraordinárias realizações científicas na fixação biológica que transformaram a sustentabilidade da agricultura na América do Sul”.
A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, celebrou a nomeação. “Considero esta uma homenagem dupla — e profundamente significativa. Primeiro, à nossa colega pesquisadora, uma mulher que dedicou sua trajetória à ciência, acreditando no poder dos microrganismos para transformar a agricultura em uma atividade mais produtiva, competitiva e sustentável. Segundo, à nossa empresa, que em seus 52 anos sempre investiu e acreditou nesses ideais”, afirmou em nota.
As pesquisas da nomeada são dedicadas ao aumento da produção e na qualidade de alimentos com a substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos portadores de propriedades. Entre elas, está o uso da inoculação na soja com bactérias fixadoras de nitrogênio (Bradyrhizobium), que se torna mais potente quando associado à coinoculação com a bactéria Azospirilum brasiliense. A Embrapa estima que a tecnologia propiciou uma economia de US$ 25 bilhões, somente em 2024. Atualmente, a inoculação da soja é usada em cerca de 85% da área cultivada no país.