Economia

Tarifaço freia investimentos na produção de tilápia em SP

Empresa exporta metade de toda a tilápia que produz, sendo que 80% do volume vai direto para os Estados Unidos

A oficialização da tarifa norte-americana sobre ao setor de pescados só deve agravar a situação de uma unidade produtora de tilápias do interior de São Paulo. Com atuação em Rifaina (SP), a Fider Pescados, especializada na criação e exportação de tilápia, já reduziu em 20% o volume de abates e interrompeu o seu plano de expansão para este ano. 

O diretor da companhia, Juliano Kubitza, explica que a ampliação da capacidade, prevista para iniciar em abril, estava atrasada por outras questões. Porém, com o cenário da tarifa, a ação foi totalmente suspensa. “Se houver uma mudança na questão das tarifas, com condições mais favoráveis ao Brasil, a gente volta a analisar a ampliação. Mas, por enquanto, está pausada”, disse ao Agro Estadão. 

O projeto inicial previa a instalação de 100 tanques-rede, oferecendo uma capacidade para produzir 8 mil toneladas anuais de tilápia. Essa nova estrutura permitiria que a empresa aumentasse em 83% a sua produção atual, que é de 9,6 mil toneladas por ano.

Contudo, o cenário que se desenhava promissor no início do ano enfrenta agora um quadro totalmente oposto. Kubitza diz que está deixando de abater de 100 a 150 mil tilápias por dia. “Eu já tenho esse peixe na água. Então, eu não consigo deixar de criar, ou seja, ele vai vir de alguma maneira. Mas eu tenho como reduzir a velocidade com que eu abato, até que a situação se equalize”, afirma o diretor. Segundo ele, a medida é preventiva, uma vez que não há certeza se haverá venda do produto.

Atualmente, a empresa exporta metade de toda a tilápia que produz — sendo que cerca de 80% desse volume vai direto para os Estados Unidos. Com o tarifaço os embarques de tilápia congelada ao mercado norte-americano já foram interrompidos e o último embarque da tilápia fresca estava previsto para esta quinta-feira, 31.

A exportação de tilápia fresca da Fider para os EUA é feita por meio de voos comerciais de passageiros, em um espaço previamente reservado pela companhias aéreas no compartimento de carga das aeronaves. O peixe precisa voar em um dia e chegar ao consumidor americano em, no máximo, 48 horas. 

Essa logística exige programação com as companhias aéreas e contratos firmados com clientes nos EUA, que serão interrompidos. “Se não tem carga, nós não vamos mandar. A gente vai ter que parar [de exportar]. Isso vai ferir as companhias aéreas, que vão viajar com um avião ocioso”, diz Juliano. 

Mercados alternativos?

Nos últimos dez anos, a produção de tilápia mais que duplicou no Brasil, saltando de 285 mil toneladas, em 2015, para 662 mil toneladas, em 2024, de acordo com o anuário da Peixes BR. Além da demanda interna, a procura internacional também contribuiu significativamente com esse crescimento.

No ano passado, por exemplo, o Brasil se tornou o segundo maior exportador de filé de fresco de tilápia para os EUA, atrás apenas da Colômbia. 

A expectativa do setor era alcançar o primeiro lugar no ranking de fornecedores este ano. No entanto, diante das tarifas, mercados alternativos na América Latina, como Chile e Argentina, estão sendo avaliados pelos exportadores. 

A perspectiva não é otimista, ao menos no curto prazo. “Diferentemente de outras proteínas, não temos uma demanda forte da Ásia, que produz muito peixe. Então, o setor de pescados, em geral, principalmente de cultivo, vai ser afetado pelas tarifas, porque quem cria o peixe tem uma cadeia que leva oito meses para o peixe crescer. Por isso, a tarifa é uma pancada no setor. A gente não consegue mudar o que vai produzir pelos próximos oito meses”, indica Kubitza.