Produção teve recuo de 0,7% entre janeiro e junho de 2025; analistas alertam para efeitos do tarifaço nos próximos meses
A produção da agroindústria recuou 5,3% em junho, na comparação com junho de 2024, pior resultado para junho desde 2019 e o mais fraco em 44 meses. Com isso, o semestre fechou com queda de 0,7%, segundo o Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro) é um índice calculado pelo Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), com base dados do IBGE.
O setor começou o ano em alta, com crescimento de 2,1% no primeiro trimestre, mas perdeu fôlego e acumulou queda de 3,1% no segundo trimestre. A retração foi puxada por alimentos e bebidas, que recuaram 1% no semestre, e por produtos não alimentícios, com baixa de 0,4% no mesmo período.
“Essa perda de dinamismo vem de encontro com a desaceleração da economia, derivada, sobretudo, de uma política monetária mais restritiva – taxa de juros elevada e maior restrição do crédito”, diz o relatório.
O FGV Agro destacou que os resultados negativos do primeiro semestre não foram causados nem pelo tarifaço anunciado por Donald Trump em julho, nem pela gripe aviária, já que a produção de carnes cresceu em maio e junho.
O grupo de alimentos e bebidas caiu 3,5% em junho. A queda foi quase generalizada, com exceção de alimentos de origem animal, que cresceram 2,6%, impulsionados por carnes, laticínios e pescados.
Em contraste, alimentos de origem vegetal recuaram 10,8% em junho/2025 frente ao mesmo mês de 2024. A retração foi puxada pela redução da produção de conservas e sucos, refino de açúcar, café, trigo e arroz.
Dentro da produção de alimentos de origem vegetal, a produção de óleos e gorduras foi a única que registrou expansão no mês.
Entre os produtos não alimentícios, a retração foi de 7,5% em junho. O principal responsável foi o setor de biocombustíveis, que despencou 45,1%, no pior desempenho da série histórica. A redução resultou de menor processamento de cana, qualidade inferior da matéria-prima e demanda enfraquecida por etanol hidratado. Já produtos florestais tiveram baixa de 1,6%, enquanto insumos agropecuários avançaram 16,2%, no melhor junho desde 2008.
O setor entra no segundo semestre em terreno negativo, pressionado pela desaceleração econômica e pelos reflexos do “tarifaço” imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos agroindustriais brasileiros. Os analistas avaliam que a recuperação dependerá da retomada da demanda externa e da estabilidade do crédito doméstico.