Demanda chinesa aquecida deve sustentar preços no mercado interno e prêmios nos portos do país, mas alerta permanece ligado
O mercado de soja tem refletido intensamente os impactos das tensões geopolíticas, principalmente diante do acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos (EUA) e China.
Em apenas dez dias, os EUA elevaram para 145% as tarifas impostas sobre produtos chineses. Em resposta, Pequim retaliou com tarifas de 125% sobre itens norte-americanos, incluindo produtos agrícolas, como a soja.
Com a perda de competitividade da soja norte-americana em razão das elevadas tarifas impostas, há a expectativa de que importadores chineses busquem uma diversificação nos fornecedores.
Nesse contexto, segundo a Scot Consultoria, o Brasil terá potencialmente um papel de destaque, uma vez que é o maior produtor mundial do grão. “É possível que o mesmo cenário vivido em 2018 se repita, com a redução da participação da soja norte-americana no mercado chinês, contribuindo para uma maior participação da soja brasileira”, afirmou a consultoria em relatório.
Em 2018, quando ocorreu a primeira guerra tarifária entre as duas potências, a agricultura dos EUA sofreu perdas estimadas em US$ 27 bilhões. A soja representou 71% dessas perdas.
Isso resultou em uma redução das exportações do grão dos EUA para a China, caindo de 31,69 milhões de toneladas em 2017 para 8,24 milhões de toneladas em 2018. Em contrapartida, no mesmo período, as compras chinesas de soja brasileira subiram de 53,80 milhões de toneladas para 68,56 milhões de toneladas.
Com isso, a China consolidou sua posição de principal importador do grão do Brasil, tendo sido destino de 73% das exportações em 2024.
Uma maior demanda chinesa pelo grão brasileiro já foi verificada desde o início da guerra comercial entre Pequim e Washington. Somente na primeira metade da semana passada, os importadores chineses compraram pelo menos 40 cargas de soja do Brasil — equivalente a 2,4 milhões de toneladas.
Essa maior procura chinesa deve impactar os preços aos agricultores. “A maior demanda por soja brasileira pelos chineses também deve sustentar cotações mais firmes da saca de soja e manter os prêmios de embarque nos portos brasileiros em patamares mais altos, caso a atual conjuntura se mantenha”, destaca a Scot Consultoria.
Apesar das perspectivas positivas, a Markestrat alerta que é necessário o produtor seguir monitorando atentamente as decisões dos principais líderes globais, uma vez que os reflexos dessas dinâmicas não afetam apenas o preço da soja, mas também os custos de produção — especialmente fertilizantes e demais insumos agrícolas. “Antecipar movimentos e ajustar a estratégia comercial serão diferenciais para preservar a rentabilidade”, contextualiza.
Além disso, ainda segundo a consultoria, o Brasil pode se beneficiar com o fortalecimento das relações comerciais com outros parceiros tradicionais dos EUA, como os países da União Europeia, que sofrem com inflação elevada desde o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. “Independente se o presidente Donald Trump vier a recuar, a insegurança já está instalada, principalmente porque a Europa tem, nos EUA, um relevante exportador de alimentos”, pontuam os especialistas. Neste contexto, a Markestrat acredita que o acordo entre Mercosul e UE poderia avançar.