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Qual é o perfil de executivos mais procurados pelas empresas de agro?

Especialista aponta as áreas que mais têm criado vagas no país e o futuro no mercado de trabalho no campo

As empresas do setor agropecuário brasileiro buscam executivos que combinam habilidades técnicas com visão estratégica. Conhecer o setor é um diferencial, mas até profissionais de outras áreas podem se dar bem se estiverem atualizados e atentos às demandas próprias do mercado de trabalho ligado ao campo. 

A agropecuária brasileira gerou 35.754 novos postos de trabalho no primeiro mês de 2025, conforme relatório da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O informe, feito com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), afirma que o resultado é superior à média histórica dos últimos 20 anos (14.608 vagas).

Ainda segundo dados do Caged, em janeiro de 2025, o saldo de contratações de profissionais com nível superior completo no setor agropecuário foi de 460, enquanto para aqueles com graduação incompleta, o número chegou a 393. Já o saldo de contratações de trabalhadores com nível médio completo alcançou 17.081, o mais alto entre os níveis de escolaridade, seguido por fundamental incompleto, com 9.496.

Ao Agro Estadão, a sócia da EXEC Consultoria em Recursos Humanos, Camila Marion, aponta as áreas em alta no setor que podem gerar mais oportunidades em cargos executivos: 

Ela afirma que mesmo em momentos de recessão, as empresas nem sempre interrompem as contratações, mas realizam trocas estratégicas, ajustando o perfil dos profissionais demandados. 

A respeito das oportunidades como analista de dados, ela considera que “muitas vezes, a empresa tem muitos dados, mas, se não fizer uma boa análise, uma boa e rápida leitura desses dados, pode perder oportunidades. Então, profissionais que possuem essa visão analítica, capazes de interpretar dados para a tomada de decisão, se destacam”. 

Outro profissional com forte demanda no setor é o especialista em logística e infraestrutura. “Eles precisam ser muito criativos e ligados nos preços dos fretes, porque é onde as empresas podem perder muito dinheiro. Então, [os profissionais que sabem como] a empresa deve escoar o grão, qual deve ser o tipo de transporte, quais são os impostos nos estados, esses têm uma vantagem [no mercado de trabalho]”, avalia.

Em relação à gestão, o analista financeiro (ou profissional número um em finanças) tem sido um dos mais demandados pelo agro, segundo Marion. A especialista destaca que, devido à exigência de amplo conhecimento técnico, esse colaborador, muitas vezes, vem de fora do setor. “[É preciso] ter acesso a crédito, ao mercado, a operações estruturadas. De repente, trazer um financeiro de fora do setor seja melhor. Mas é importante que conheça muito esse lado do agro, é algo que pode agregar bastante”, recomenda.

Já na área comercial, as empresas ligadas à agropecuária preferem trabalhadores que já estejam no setor. “Se for o número um da área comercial, é importante que o profissional seja muito bom em gestão de processos e de pessoas e em análise de dados. Porque, estrategicamente, ele toma a decisão baseada nos dados e quem está abaixo dele faz esse relacionamento com o campo”, detalha.

Primeiros passos e habilidades necessárias

Para os profissionais executivos de fora do agronegócio, que desejam entrar no setor, a sócia da EXEC recomenda a realização de pós-graduações e MBAs específicos para se familiarizarem com o contexto do setor no Brasil. Outra estratégia importante é o networking. “Você pode fazer mentorias com gente da área. Hoje tem muitos executivos sêniores que fazem mentoria paralela à carreira deles. As pessoas do agro são muito simples e gostam de compartilhar o conhecimento. Então, use seu networking e pergunte: ‘eu posso visitar sua fazenda um final de semana?’ Acho que isso pode ser interessante”, recomenda.

Quanto às habilidades e competências dos executivos, Marion destaca a importância de ter uma mente aberta e inovadora, visão analítica de dados e agilidade na tomada de decisões. A especialista ressalta que as empresas já estão investindo no desenvolvimento de seus colaboradores, por meio de academias de liderança ou programas focados em aprimorar competências específicas nas equipes.

De olho nas áreas em expansão do agro

Foto: Adobe Stock

O mercado de bioinsumos brasileiro cresceu 15% na safra 2023/2024 em comparação com a safra anterior, totalizando R$ 5 bilhões em vendas. Os dados são de um levantamento da FGVAgro. Segundo Camila Marion, esse setor tende a se consolidar ainda mais nos próximos anos, criando oportunidades de trabalho para os executivos. 

“[O mercado de bioinsumos] está em linha com as tendências de sustentabilidade do mundo e do consumidor mais exigente. Ainda não temos profissionais muito capacitados nessa área, porque é algo mais novo. Como é uma venda de valor agregado, talvez os profissionais de sementes — que também é venda de valor agregado — possam se adaptar bem a esse mercado de bioinsumos”, avalia.

Outra área em expansão é a de créditos de carbono, especialmente após a aprovação do marco regulatório no Brasil. “Vejo empresas se especializando no tema, mas ainda tem poucos executivos especializados. Algumas empresas já estão tangibilizando isso dentro das suas próprias cadeias, outras ainda não, mas é uma tendência importante”, ressalta.