Viagem presidencial deve abrir oportunidades para agropecuária brasileira
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deu início à viagem internacional que vai percorrer dois países da Ásia. Até 27 de março, Lula visitará Tóquio, no Japão. De 27 a 29 de março, o presidente estará em Hanói, no Vietnã. A missão internacional leva uma comitiva do governo, incluindo o ministro da Agricultura e Pecuária Carlos Fávaro e membros do Mapa, além dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, e ex-presidentes das duas casas.
As pautas de interesse do setor agropecuário devem ter uma relevância significativa durante os dias da viagem e interessam sobretudo ao segmento de carne bovina. Em ambos os países, a ideia é anunciar ou avançar em aberturas de mercados que envolvem a pecuária brasileira.
Na terra dos samurais, a expectativa do governo é avançar algumas casas na negociação de abertura do mercado japonês. Tecnicamente, a esperança é de que esses dias em Tóquio sirvam para acordar uma data de quando as autoridades japonesas viriam ao Brasil para auditar o sistema de inspeção brasileiro com foco na carne bovina.
Uma fonte a par das negociações diz que formalizar essa auditoria já seria uma “vitória” para a delegação brasileira, mas também apontou que a participação de Lula pode acelerar o processo. “Óbvio que numa visita presencial a coisa pode avançar até mais”, disse.
No entanto, o trâmite aguardado é a definição da data da auditoria japonesa e, posteriormente, o acerto de requisitos entre os dois países. Em uma fase mais embrionária, está a decisão sobre o método de habilitação. Historicamente, o Japão tem adotado o pre-listing como forma de habilitar as empresas brasileiras que exportam os produtos para lá. Basicamente, as autoridades sanitárias do país exportador são quem habilitam as empresas, desde que os estabelecimentos cumpram com as normas colocadas pelo país importador.
Esse sistema traz mais autonomia para o Brasil e é entendido como positivo pelo mercado exportador brasileiro. Em nível de comparação, a China não adota esse sistema. As habilitações são dadas a partir de uma auditoria chinesa feita unidade a unidade. Isso demanda mais tempo e é mais burocrático.
Outro pleito que se espera por um anúncio positivo é a ampliação das exportações de carne suína. Isso porque, atualmente, só o estado de Santa Catarina pode exportar o produto para lá. O estado tem o reconhecimento de zona livre de febre aftosa sem vacinação pela pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA desde 2007). Em 2021, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e algumas áreas do Amazonas e Mato Grosso tiveram o reconhecimento de zonas livres de febre aftosa sem vacinação pela OMSA, porém o Japão ainda não reconhece essas regiões.
A ideia do governo é que os japoneses possam fazer o reconhecimento desses demais estados como zonas livres da enfermidade sem vacinação. “Alguns desses estados [livres de febre aftosa sem vacinação] já enviaram documentação. Esperamos algum avanço nesse sentido também”, projetou um dos participantes da comitiva.
Além disso, outro item na pauta agropecuária brasileira é a regionalização da influenza aviária por município e não por estado. Atualmente, se uma cidade tem um caso de influenza, o estado todo fica embargado na hora de exportar carne de frango para o Japão, por exemplo. Esse reconhecimento mudaria isso.
Em estágio mais adiantado, a abertura do mercado de carne bovina deve ser anunciada durante a viagem da comitiva brasileira ao Vietnã. O governo avalia essa abertura como “uma possibilidade preeminente”, já que os documentos que faltavam para oficializar a tratativa foram entregues e avaliados pelos vietnamitas.
Ainda no segmento da pecuária, outro mercado com bom otimismo é o de farinhas de origem bovina. O Vietnã é um importante produtor de peixe e essas farinhas são matéria-prima das rações utilizadas na piscicultura. A expectativa é de que haja abertura também nesse mercado.