Economia

Alta nos custos e crédito caro desafiam ano-safra 2025/2026

Margens apertadas vão exigir gestão mais eficiente no campo, aponta Itaú BBA

O ano-safra 2025/2026 deve exigir cautela por parte dos produtores rurais, diante da alta nos custos de produção — especialmente com fertilizantes e crédito — e do cenário global marcado por incertezas econômicas e geopolíticas. A avaliação foi feita pelo gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, durante a 11ª edição do Agro em Pauta, do Itaú BBA, nesta quinta-feira, 02, em São Paulo (SP). A previsão da consultoria é de margens mais apertadas e a necessidade de uma gestão eficiente de custos e preços no campo.

Segundo Alves, o principal impacto para o agro vem do encarecimento dos fertilizantes, intensificado por conflitos no Oriente Médio. “Em princípio, não estamos completamente preocupados com a disponibilidade de fertilizantes, mas sim com o preço deles.” Para o especialista, o milho safrinha pode ser o mais afetado, já que parte dos insumos ainda não foi adquirida.

Outro ponto crítico apontado é o custo elevado do crédito, sem perspectiva de queda na taxa de juros no curto prazo. “Juros mais altos, enormes incertezas econômicas e geopolíticas: um ambiente que a gente tem que ser, obviamente, mais cauteloso.”

Produtividade da soja

Apesar desses e outros desafios, como o aumento dos custos e a queda nos preços das commodities, a soja teve um desempenho acima do esperado em grande parte do país. Cesar destacou que, mesmo com margens apertadas, a boa produtividade ajudou os produtores a manter algum nível de rentabilidade.

Segundo ele, “a produtividade foi muito boa, com exceção só do Rio Grande do Sul e parte do sul do Mato Grosso do Sul, que sofreram bastante”. Nas demais regiões, especialmente do Mato Grosso do Sul para cima, a safra de soja surpreendeu positivamente, beneficiada por condições climáticas favoráveis.

O bom desempenho foi crucial para compensar a queda nos preços da oleaginosa, permitindo que muitos produtores fechassem a safra em uma situação melhor do que o inicialmente previsto. 

Biocombustíveis

De acordo com a consultoria, o esmagamento global de soja deve bater recorde, puxado pela produção de biocombustíveis.“A gente enxerga que o Brasil tem grande potencial, seja como exportador de alimentos, mas seja também como produtor de matéria-prima para a produção de biocombustíveis”, disse.

Na avaliação dele, o mercado interno, impulsionado pela Lei de Combustível do Futuro, com as recentes alterações feitas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), e o cenário internacional, que favorece as exportações, especialmente de proteínas animais — beneficiada com a produção de farelo —, reforçam essa projeção positiva para o médio e longo prazo.

Outras culturas

Para o milho, a situação é mais delicada, de acordo com a consultoria. A produção está elevada, mas há risco de excedente, mesmo com exportações em alta. “Mesmo que a gente consiga dar vazão a todo o milho, a gente ainda fica com um estoque razoavelmente bom no final”, disse.

Outro destaque é o cenário atual do arroz é, com oferta elevada e estoques consideráveis. O gerente da Consultoria Agro do Itaú enfatizou que o governo tem sinalizado a intenção de adotar medidas para estimular a formação de estoques privados, com uma possível pré-compra de até 500 mil toneladas, o que ajudaria a reduzir o excedente atual — estimado em 1,3 milhão de toneladas, segundo a Conab. 

No entanto, Alves destacou que a medida ainda não foi confirmada e que há pressão do setor para que o Ministério da Economia autorize a operação, o que considera difícil, em razão do contexto político e a sensibilidade em torno de políticas públicas para o arroz. Questionado sobre o tema, Alves disse que “qualquer tipo de política pública pode mudar o cenário”.

Além dos grãos e biocombustíveis, o Itaú BBA também aponta desafios para culturas como o algodão e o trigo, pressionadas por custos elevados e concorrência externa. 

Otimismo para carnes

Já no setor de proteínas animais, a expectativa é de manutenção das margens e possível renovação de recordes de exportação, sustentados por custos de ração mais baixos e demanda internacional firme. De acordo com o Itaú BBA, a estabilidade sanitária do Brasil deve continuar fortalecendo a competitividade da carne de frango no mercado global. 

“Para as proteínas, a gente tem uma visão bem otimista”, disse Alves, destacando também a retomada da competitividade brasileira na exportação de carne de frango, apesar das preocupações com a gripe aviária.