As novas tecnologias do campo são importantes, mas os riscos dos agrotóxicos para o meio ambiente envolvem drásticas contaminações e afetam a biodiversidade
O controle de pragas nas culturas remonta à Roma Antiga, quando eram utilizados a queima de enxofre como fungicida e sais no controle de ervas daninhas. Atualmente, cerca de 5 bilhões de quilos de pesticidas são aplicados em todo o mundo por ano. A agricultura moderna gera crescimento econômico, mas é responsável por uma poluição que afeta as pessoas e o meio ambiente, principalmente devido ao uso desenfreado de agrotóxicos.
O Brasil é um dos principais produtores agrícolas do mundo e o maior consumidor do mercado mundial de pesticidas, com mais de 400 fórmulas aprovadas; quase metade dos químicos liberados em nosso território, no entanto, é proibida em países da União Europeia.
O uso indiscriminado de agrotóxicos pode levar à contaminação da água e do solo e causar efeitos drásticos em espécies não alvo, afetando a biodiversidade, as redes alimentares e os ecossistemas aquáticos e terrestres.
Pesticidas hidrossolúveis podem alcançar águas superficiais, como córregos, rios e lagos, por meio do escoamento dos produtos químicos a partir de plantas tratadas e do solo contaminado. Os agrotóxicos também penetram no solo atingindo aquíferos, e a contaminação subterrânea é um problema crônico, pois, uma vez que a água profunda está poluída, muitos anos são necessários para que as impurezas se dissipem. A limpeza desses corpos d’água pode ser cara e complexa, muitas vezes até impossível.
A poluição hídrica advinda de práticas agrícolas é frequentemente subestimada. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicado em 2018 traz um alerta global acerca da contaminação da água. Segundo a publicação, a agricultura é o maior responsável pelo desperdício de água em volume, além de ter dado origem a ameaças ambientais, incluindo o aumento da poluição dos ecossistemas aquáticos.
Os pesticidas mais presentes na terra são os herbicidas, que ficam retidos em diferentes graus, dependendo das interações entre as propriedades do solo e os agrotóxicos. A característica mais influente é o conteúdo orgânico, e quanto maior é o teor de matéria orgânica, maior é a absorção das substâncias.
O solo contaminado pode afetar as populações de microrganismos benéficos, o que o degrada, pois reduz a produção de nutrientes no ambiente. Algumas plantas, como as leguminosas, dependem de uma variedade de microrganismos do solo para transformar nitrogênio atmosférico em nitratos, e muitos herbicidas interrompem esse processo.
Os agrotóxicos em spray podem volatilizar e ser carregados para outras áreas, contaminado o ar, o solo e as plantas longe da área tratada. A perda por volatilização pode atingir até 25%, o que indica que uma elevada porcentagem de produto químico pode se espalhar de alguns metros a várias centenas de quilômetros.
Muitas fórmulas herbicidas volatilizam e geram vapores suficientes para causar danos graves a outras plantas, reduzir severamente a qualidade das sementes e aumentar a suscetibilidade a certas doenças. As plantas também podem sofrer consequências indiretas dos danos dos agrotóxicos aos microrganismos do solo e insetos benéficos.
Vários organismos podem sentir os efeitos dos agrotóxicos, como insetos benéficos ao solo e à polinização, peixes e outros seres aquáticos, pássaros e espécies selvagens. A água contaminada com pesticidas pode afetar plantas aquáticas, diminuir o oxigênio dissolvido na água e causar danos fisiológicos aos animais. Herbicidas, por exemplo, podem ser tóxicos para os peixes, causar deformidades vertebrais, produzir efeitos subletais, como natação irregular e dificuldade para respirar, reduzindo as chances de sobrevivência.
O acúmulo de pesticidas nas cadeias alimentares é a maior preocupação, pois afeta diretamente os predadores de topo. Vários casos de envenenamento de golfinhos e outros mamíferos aquáticos por pesticidas têm sido relatados em todo o mundo devido ao seu alto nível trófico na cadeia alimentar e acúmulo de concentrações de poluentes orgânicos.
Os efeitos nas plantas aquáticas também podem causar um grande desequilíbrio no ecossistema, uma vez que esses organismos são a base da cadeia alimentar. Estudos em algas e diatomáceas em córregos mostrou que as substâncias químicas tóxicas danificam as células e bloqueiam a fotossíntese.
Fontes: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).