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ABCZ: “o produtor deve buscar a pecuária de precisão”
Com o maior banco genético de zebu do mundo, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu aposta no uso da inteligência artificial para aprimorar a produção

Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadao.com
15/07/2024 - 17:49

Com mais de 234 milhões de bovinos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o Brasil se destaca como o maior rebanho comercial do mundo. A potência que o país demonstra nesse ramo nos últimos anos vem em grande parte do trabalho incansável de pecuaristas.
O Dia Nacional do Pecuarista foi instituído em 2008, por meio da lei 11.716 e é celebrado todo 15 de julho. Para entender a evolução deste segmento importante para o agronegócio brasileiro, o Agro Estadão entrevistou o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Gabriel Garcia Cid. Com 17 milhões de animais registrados, a entidade é líder mundial em banco genético de Zebu.
Garcia vem de uma família de pecuaristas que desenvolve a atividade há mais de 60 anos. Atualmente à frente da ABCZ, que tem 25 mil associados em todo o país, ele acredita que os produtores estão conscientes da necessidade da responsabilidade ambiental e vê a importância da sociedade entender “o papel do boi além da carne”. A aposta, segundo ele, está na pecuária de precisão. Com o uso de ferramentas para o aprimoramento da produção, como a inteligência artificial.
Agro Estadão – Presidente, as iniciativas para tornar a agropecuária mais sustentável vêm crescendo e se tornando uma obrigação básica para essa atividade econômica. Na avaliação do senhor, como a pecuária tem se saído nessa questão e no que ainda é preciso avançar?
Gabriel Garcia Cid, presidente da ABCZ – O pecuarista já entendeu que só vai crescer com sustentabilidade. E nós temos trabalhado isso com nossos mais de 25 mil associados. A ABCZ está em todo Brasil com 25 escritórios regionais e pontos de apoio. O Zebu alcançou o patamar que tem hoje, graças à evolução do melhoramento genético, que traz junto a produção sustentável. Essa é nossa missão, não apenas do futuro, mas do presente e é nisso que avançamos diariamente. O melhoramento genético de zebuínos realizado pela ABCZ busca criar animais mais produtivos e adaptados, o que permite aos pecuaristas produzirem mais em menos tempo, utilizando uma menor área de pastagem. Isso contribui para a preservação das áreas naturais, evitando o desmatamento e a expansão desordenada. Além disso, a ABCZ também se preocupa em incentivar e orientar os pecuaristas sobre a importância da recuperação de pastagens degradadas. Por meio de programas e parcerias, a associação promove ações de manejo adequado do solo e de técnicas sustentáveis de recuperação.
AE – Hoje, o rebanho comercial brasileiro é o maior do mundo e somos referência em genética bovina. Mas o que ainda precisa ser visto e melhorado na pecuária brasileira?
Gabriel Garcia – A pecuária brasileira tem feito esse exercício de dialogar com a sociedade e combater informações equivocadas sobre seus processos produtivos. Afinal, o boi vai muito além da carne, existem diversos subprodutos utilizados nos mais diversos segmentos, desde alimentação à aviação. Mudar essa imagem, é mostrar que o que chega à mesa dos consumidores vem de práticas responsáveis e a carne e o leite possuem nutrientes indispensáveis à saúde. O produtor também precisa de apoio dos governos, de lideranças que estejam do lado de quem produz, de quem o apoie com ações e com políticas públicas, porque tudo o que produzimos aqui é valorizado no mundo inteiro. Prova disso, é a nossa liderança na exportação de carne bovina.
AE – Quando o senhor fala dessa necessidade de apoio das lideranças e do governo, que tipo de ações o senhor acredita que podem ser feitas por esses agentes?
Gabriel Garcia – Com incentivo ao crédito, investimento em pesquisa científica e ensino agro de qualidade para formação de novas lideranças e sucessão rural. Investimento em logística e projetos que valorizem o trabalho do produtor rural, levando em conta a carga tributária. Um governo que construa pontes para que o nosso trabalho possa alcançar outras fronteiras sem perder a valorização interna.
AE – E falando sobre futuro, quais novidades vêm sendo implementadas que o senhor destaca e acredita que serão a nova fase da pecuária no Brasil?
Gabriel Garcia – O agronegócio emprega mais de 28 milhões de pessoas e a pecuária está inserida nesse contexto. Acredito muito na tecnologia e nós estamos sempre amparados pela pesquisa científica e parceiros sólidos, como a Embrapa. Prestes a abrir mais uma Expogenética, a 17ª edição, de 16 a 25 de agosto, nós temos visto que no mercado há muitos movimentos, num deles, a aproximação da indústria com o melhoramento genético. Isso tem a ver diretamente com as escolhas estratégicas do pecuarista em melhorar o rebanho e impactar as novas gerações, visando avaliações genéticas de confiança que fazem o mundo inteiro vir até nós para aprender mais dessa experiência que visa à produção de carne e leite de qualidade.
AE – O senhor aposta muito no melhoramento genético como uma chave para dar passos mais consistentes de produtividade. Falando um pouco sobre essa temática, o que o produtor de bovino deve ficar de olho sobre essa tecnologia?
Gabriel Garcia – O produtor deve buscar a pecuária de precisão. Atualmente, existem ferramentas indispensáveis para o aprimoramento da produção e elas envolvem o uso de inteligência artificial. A avaliação genética da ABCZ, por exemplo, passou a contar com novas características no Índice iABCZ, que são características de olho de lombo e carcaça, visando identificar animais mais equilibrados tanto para ganho de peso, morfologia e qualidade da carne. Atualmente avalio que há disponibilidade e fácil acesso à genética melhoradora, isso em maior volume de animais de elevado valor genético.
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