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Economia

Butiá: conheça a fruta, os tipos, a origem e a forma de plantar e cuidar

Butiá pode ser consumido in natura ou em preparos e até drinks; planta nativa do Brasil tem relação com os Andes e uso ornamental em países frios

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Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadao.com

09/06/2024 - 16:42

Foto: Embrapa Clima Temperado
Foto: Embrapa Clima Temperado

De cor amarela com tons de laranja, o butiá é mais conhecido e apreciado no Sul do país. Com uma história milenar, essa planta tem usos até fora do Brasil. 

O Agro Estadão conversou com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Clima Temperado, Gustavo Heiden, para entender o que é, os benefícios e as formas de plantio do butiá. Heiden faz parte de um projeto chamado Rotas dos Butiazais que integra instituições de pesquisa interessadas na investigação sobre a planta. 

O que é o butiá?

O butiá é o fruto dos butiazeiros. Eles são formados em cachos dessas palmeiras e possuem diferentes usos. Até o momento, são conhecidas 23 espécies de butiazeiros, o que significa que há 23 tipos distintos de butiás. 

No Brasil, são encontradas 20 espécies nativas, sendo dez endêmicas, ou seja, só existem de forma natural no país. Essas palmeiras estão localizadas na Bahia, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além disso, também tem ocorrência natural no Uruguai, Argentina e Paraguai.

No sul do país, assim como em países fronteiriços, as populações de butiazeiros são conhecidas como palmares. No Rio Grande do Sul, também são chamadas de butiazais e alguns povos indígenas as conheciam como butiatubas.

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Origem do butiá

A trajetória das variedades de butiazais e butiás começa há mais de 15 milhões de anos com a formação da Cordilheira dos Andes. Alguns indivíduos da espécie ancestral da palmeira-do-chile acabaram se isolando nas partes sul e sudeste da América do Sul depois da atual configuração dos Andes, o que originou o gênero Butia. 

Para que serve o butiá e o butiazeiro?

O consumo do butiá é comum no Sul do Brasil. O fruto é aproveitado na produção de sucos, geleias, doces, sorvetes, iogurte, picolés, chutney e também para comer in natura. Outro uso é como aromatizantes de cachaças. 

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Gustavo Heiden, conta que é normal encontrar nas casas de famílias essas bebidas alcoólicas curtidas com butiá. 

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Além da polpa, o chamado “coquinho do butiá” tem de uma a três sementes dentro, que são como as amêndoas. Para alguns gaúchos, essas castanhas fizeram a alegria durante a infância, pois o gosto é semelhante ao de castanha de coco. 

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As folhas são outra forma de aproveitar o butiá, já que podem ser usadas em artesanatos na confecção de bolsas, chapéus e itens decorativos. No século XX, antes das fibras sintéticas, essas partes do butiazeiro também eram usadas na indústria de onde se extraia as fibras naturais, chamadas de crina vegetal. Esse material era utilizado em estofados e camas. 

Butiazeiro e o paisagismo 

O butiazeiro é adaptado ao clima temperado, ou seja, é resistente a baixas temperaturas, inclusive a geadas, e suporta picos de calor. Por isso, as variedades de porte dessa palmeira permitem a utilização ornamental.

Também não é raro encontrar essas plantas em países da Europa, além dos Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão e Austrália. 

Serviços ecoambientais

Além dos usos para os humanos, os butiazais também prestam um serviço ecoambiental. “Eles fornecem abrigo e alimentação para a fauna e flora nativa”, exemplifica o pesquisador da Embrapa. “Existem algumas espécies de plantas, como orquídeas e bromélias, que crescem nos troncos dos butiazeiros”, complementa Heiden. 

Outro benefício dessas plantas está na apicultura, já que os cachos floridos se tornam uma fonte de pólen e néctar para as abelhas. 

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Além disso, o butiá também exerce uma importância social, pois em algumas regiões, o fruto é tradicional como em famílias de produtores dos pampas gaúchos e em comunidades indígenas. 

Extrativismo do butiá

Atualmente, são poucos os cultivos comerciais de butiá e não há plantações em larga escala. Segundo Gustavo Heiden, “a maior parte da produção vem da exploração extrativista das populações naturais dos butiazais”.

galho de butiazeiro
Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa Clima Temperado

O pesquisador também diz que a procura pelo fruto tem aumentado devido à demanda pelo suco, mas mesmo assim, as empresas recorrem a produtores familiares não dedicados ao cultivo ou ao extrativismo. 

Também por isso, não há informações exatas sobre a quantidade produzida de butiá. “Na Embrapa, nós temos alguns projetos em andamento e um deles visa levantar qual seria o giro econômico, de recursos financeiro, quantas pessoas e famílias, quantas empresas estão na cadeia do butiá, mas são dados ainda não disponíveis”, afirma.

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Quais os benefícios nutritivos do butiá?

Alguns benefícios nutricionais do butiá listados pelo pesquisador são:

  • rico em vitamina C;
  • grande quantidade de potássio;
  • presença de compostos bioativos, como antioxidantes. 

Além disso, alguns estudos da Embrapa demonstram que há substâncias que ajudam no controle da glicemia. 

Tipos de butiazeiros

Grandes ou anões, os butiazeiros têm portes e locais diferentes de surgimento. Um desses tipos são os butiazeiros graminiformes: “São tão pequenos, que eles lembram gramíneas para quem olha de longe”, explica Heiden. 

O pesquisador elenca algumas espécies e onde é comum encontrá-las:

  • Butia lallemantii Deble & Marchiori (butiá anão) – mais comum no Bioma Pampa; 
  • Butia leptospatha – extintas na natureza, mas ainda conservadas em alguns lugares como no Jardim Botânico Plantarum em Nova Odessa (SP). É natural do Mato Grosso do Sul e uma das espécies graminiforme;
  • Butia odorata – ocorre no pampa gaúcho e uruguaio;
  • Butia catarinensis – presente no litoral norte do Rio Grande do Sul e no litoral de Santa Catarina;
  • Butia eriospatha (butiá da serra) – comum nas regiões de campos em cima das serras catarinenses, gaúchas e paranaenses;
  • Butia capitata – ocorre em Minas Gerais e Bahia;
  • Butia purpurascens (palmeira jataí) – natural em Goiás e Distrito Federal.

O que devo fazer para plantar butiá?

Antes de plantar o butiazeiro, o pesquisador recomenda que a pessoa escolha a espécie que é mais adaptada à região onde vive. Há pelo duas formas de começar: com uma muda ou com a plantação direta das sementes (do coquinho). 

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Para produção em larga escala, ainda não existem viveiros capazes de entregar grandes quantidades de mudas de uma vez. Além disso, atualmente não existem cultivos comerciais do butiá, então “não há metodologias estabelecidas de pomar agrícola ótimas para cada uma das espécies”, esclarece o pesquisador da Embrapa.

Apesar disso, para plantações domésticas, é mais fácil ter acesso às mudas. O plantio e manejo também não requerem muitos cuidados.

Devo usar mudas ou sementes de butiá?

Quem opta pelas mudas ganha alguns anos no desenvolvimento da planta, pois dependendo do tamanho, ela estará apta para ser plantada no local onde permanecerá o restante da vida. 

Para quem deseja começar com a semente, basta plantá-la em um vaso ou substrato com boa drenagem. Esse é o primeiro cuidado, pois na etapa de germinação e de desenvolvimento da muda, a planta não resiste a solos encharcados. 

Quanto ao tempo para germinar, Heiden explica que não há um tempo preciso, podendo levar meses ou anos, pois a estrutura que envolve as sementes (castanhas) é dura. O pesquisador apresenta duas formas de acelerar esse processo:

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1 – Romper a casca do coquinho e extrair as sementes: em casa pode ser utilizado um torno ou um martelo, mas é necessário tomar cuidado para não danificar as sementes. Se houver danos a sementes, isso pode fazer com que ela não germine mais;

2 – Exposição ao ácido giberélico: esse é um hormônio vegetal natural capaz de acelerar a germinação e é vendido em algumas casas agropecuárias. No entanto, o pesquisador ressalta que essa técnica pode exigir mais conhecimento. 

palmeira de butiá
Palmeiras de butiá no Rio Grande do Sul. Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa Clima Temperado

Quando plantar o butiá no local definitivo?

Em um primeiro momento do desenvolvimento dos butiazeiros, as plantas costumam ter apenas folhas lineares semelhantes a gramíneas (gramas, por exemplo). No entanto, depois de algum tempo, essas folhas passam a ter o formato característico das palmeiras. É neste momento que as plantas estão mais fortes e podem ser plantadas no local definitivo.

Adubação 

Se a espécie de butiá escolhida ocorre de forma natural na região onde foi plantada, o pesquisador orienta que não é necessário fazer adubação, pois o natural é que ela já esteja adaptada às condições de solo do local. No entanto, se não for o caso, é importante que haja uma adequação da terra para se assemelhar ao solo de origem da planta.

“São plantas que evoluíram em locais com solos bem arenosos ou com solos não tão ricos em matérias orgânicas. A princípio, a adubação nitrogenada não é algo necessário para que as plantas de butiá se desenvolvam bem”, indica Heiden.

Quando o butiazeiro começa a dar flores e butiás?

O desenvolvimento de uma planta vai depender das condições em que ela foi plantada, além da própria genética. De forma geral, as primeiras flores e frutos costumam aparecer quando a palmeira tem dez anos. 

Cuidados com a planta

Além da recomendação de escolher uma planta que seja da região, Heiden também pontua outros detalhes na hora do plantio e manejo:

  • quando plantar em local definitivo, não é aconselhável que ela fique na sombra de outras árvores. O ideal é que sejam locais ensolarados, pois elas necessitam de várias horas de sol; 
  • não toleram solos encharcados por muito tempo. É importante ter um solo de boa drenagem; 
  • não é estritamente necessário fazer podas em folhas mais antigas. Em algumas regiões mais secas, essas folhas ajudam as plantas na captação de água da neblina e manutenção térmica, por exemplo; 
  • na floração dos cachos, não se deve cobrir com panos ou sacos. Essa etapa dos frutos é necessária para a visitação de insetos polinizadores. Caso queira fazer essa proteção para evitar que os frutos se percam ou sejam consumidos por animais, o ensacamento dos cachos só é recomendado quando os frutos já estiverem em fase de desenvolvimento. Porém, é preciso manter a aeração e a passagem de luz; 
  • quando o cacho apresentar 50% ou mais em fase de frutos maduros, é possível retirar o cacho para que o restante dele amadureça em outro local, por exemplo, dentro de casa.

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