Final da etapa milho do Rally da Safra aponta colheita total de 150,3 milhões de toneladas
O Brasil deve colher em 2025 a maior safra de milho da história. Segundo a Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, a produção total do cereal deve atingir 150,3 milhões de toneladas, somando a safra de verão (27 mmt) e a segunda safra, estimada em 123,3 milhões de toneladas – um salto de 20,2 mmt em relação ao ciclo anterior (23/24).
O bom desempenho é resultado direto das condições climáticas favoráveis entre abril e junho, que garantiram umidade adequada inclusive para as lavouras semeadas fora da janela ideal. “As lavouras tardias vão entregar uma produtividade nunca vista. E isso só ocorreu por conta do prolongamento das chuvas”, afirmou André Debastiani, coordenador da expedição.
A produtividade média nacional foi revisada para 113,8 sacas por hectare, um recorde. Mato Grosso lidera com 131,9 scs/ha, seguido por Goiás (126,1), Paraná (106,5) e Mato Grosso do Sul (98,1). Mesmo Minas Gerais, onde parte das lavouras foi plantada tardiamente, deve registrar média de 91 scs/ha.
Apesar de redução pontual na população de plantas em regiões como o Oeste e Sudeste de Mato Grosso, houve aumento significativo no número de espigas viáveis e de grãos por espiga. Dados da Agroconsult indicam que a formação de espigas e o enchimento dos grãos foram favorecidos pela umidade regular durante todo o ciclo.
Segundo a empresa, por meio da plataforma Cropdata — que permite avaliação detalhada de cada talhão via satélite — foi possível revisar a área cultivada da segunda safra para 18,1 milhões de hectares, 5,7% acima da temporada passada e 1,2 milhão de hectares acima da estimativa oficial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Ao todo, 22 equipes percorreram quase 104 mil quilômetros em 14 estados e no Distrito Federal, avaliando 608 lavouras de milho e mais de 1.600 lavouras de soja. A etapa campo também resultou na visita a 349 produtores e técnicos rurais, contribuindo para a consolidação das estimativas.
Mas o volume recorde impõe desafios logísticos à cadeia do milho, principalmente quanto à armazenagem e à fluidez do escoamento. De acordo com André Debastiani, há previsão de que parte expressiva da produção fique armazenada a céu aberto, como já ocorreu em ciclos anteriores.
“O consumo doméstico tem crescido de forma consistente, puxado pelo avanço do etanol de milho e pela recuperação da demanda de rações. Mas o tamanho da safra pressiona toda a infraestrutura — da armazenagem à movimentação nos portos. Já observamos sinais de estrangulamento logístico em algumas regiões”, afirmou o coordenador do Rally da Safra.
Segundo a Agroconsult, a demanda interna deve atingir 97 milhões de toneladas, apoiada pela recuperação do setor de proteínas e pela retomada do mercado de etanol.
Apesar da expectativa de exportar 44,5 milhões de toneladas no segundo semestre, o presidente da Agroconsult, André Pessoa, alertou que o cenário internacional é desafiador. A ausência da China no mercado, a conjuntura delicada de grandes compradores como Irã e Egito, a concorrência com EUA, Argentina e Ucrânia, além do câmbio menos competitivo, dificultam o escoamento.
“É possível exportar esse volume, mas em condições muito diferentes das que viabilizaram as 55 milhões de toneladas em anos anteriores. A janela é curta, até a entrada da próxima safra de soja, e isso pressiona preços e logística”, afirmou Pessoa.
Segundo ele, o ritmo de comercialização segue lento, com apenas cerca de um terço da safra vendida até agora. Em algumas regiões do Mato Grosso, há sinalizações de preços abaixo de R$ 40 por saca, o que aumenta a apreensão do setor, mesmo diante de um ciclo agrícola excepcional.
Um dos destaques desta safra foi o desempenho das lavouras plantadas após fevereiro, que tradicionalmente apresentam queda na produtividade. Neste ano, todas as principais regiões superaram o patamar de 100 scs/ha para essas áreas. Em Mato Grosso, por exemplo, as lavouras tardias atingiram média de 123 scs/ha.
“Historicamente, a gente observa uma queda no potencial produtivo das lavouras mais tardias. O que vimos este ano foi uma exceção: produtividade alta do início ao fim, resultado direto da regularidade climática e do cuidado no manejo. Isso surpreendeu até mesmo em áreas com plantio fora da janela ideal”, afirmou André Debastiani, da Agroconsult.
Ainda assim, a pressão de pragas foi significativa em muitas regiões. No Médio Norte de Mato Grosso, 79% das lavouras apresentaram lagartas do cartucho e da espiga, ante 12% no ciclo anterior. Mesmo com esse avanço, o controle foi considerado eficaz. No caso da cigarrinha, a incidência variou entre 29% e 47% nas principais regiões analisadas, como Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso.
Além do milho e da soja, o Rally da Safra 2025 incluirá, pela primeira vez, uma etapa dedicada ao algodão, com trabalhos de campo programados entre julho e agosto nos dois principais estados produtores da fibra: Mato Grosso e Bahia. O objetivo é suprir lacunas de informação sobre área plantada, produtividade, rastreabilidade, certificações e desafios logísticos enfrentados pelo setor.
Segundo a Agroconsult, a expedição visitará grupos agrícolas de referência, promoverá eventos técnicos em Cuiabá e Luís Eduardo Magalhães e acompanhará processos de beneficiamento para mapear a qualidade da pluma brasileira. Os resultados serão divulgados em setembro.