Economia

Baixa oferta deve estimular importações recordes de trigo

Compras externas deverão atingir patamar parecido como o do ano passado; preços devem seguir trajetória de alta

A baixa disponibilidade de trigo no Brasil deve estimular as importações, previstas para atingir o mesmo patamar do ano passado, quando foram adquiridas 6,6 milhões de toneladas do cereal — o maior volume desde 2018. 

Com a produção nacional estimada em 7,8 a 7,9 milhões de toneladas, a necessidade de compras externas se torna essencial para suprir a demanda interna. Em janeiro, o Brasil importou 716,9 mil toneladas de trigo —  37,6% a mais que no mês anterior, 16,75% a mais que no mesmo período do ano passado e 22,9% a mais que a média dos últimos cinco anos.

De acordo com boletim da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), esse incremento ocorreu devido à quebra de safra  no Paraná — que está com baixos estoques — e à maior necessidade de importação de trigo com qualidade para panificação.

O consultor da TF Agronomia, Luiz Carlos Pacheco, afirma que os moinhos paranaenses estão abastecidos até o final de março. Por isso, estarão fora do mercado nas próximas semanas, inibindo as negociações. Há ainda alguns agentes que optam por segurar suas ofertas na expectativa de preços mais elevados no futuro. “Então, para não estourar preço, eles [moinhos] estão fora de mercado agora”, afirma Pacheco. 

Já no Rio Grande do Sul, segundo a TF, a disponibilidade de trigo é de, aproximadamente, 940 mil toneladas, enquanto a demanda do estado até outubro deve ser de 1,27 milhão de toneladas.

Atualmente, diante da baixa oferta, o preço da tonelada de trigo registra elevação, respectivamente, de 5,19% e 2,29%, no Paraná e Grande do Sul. E a tendência, diante do cenário atual é de mais elevação. “A minha perspectiva é que o preço no Paraná deve subir R$ 300 por tonelada até o final de julho e R$ 400 no Rio Grande do Sul”, estima o consultor da TF Agronomia.

Mercado internacional

O mercado global também passa por movimentos que afetam a dinâmica de oferta e preço do trigo. Um dos fatores de baixa é a previsão de temperaturas mais altas nas Grandes Planícies dos Estados Unidos (região produtora de trigo no país). O quadro afasta o risco de danos às lavouras de inverno, que recentemente tiveram que suportar uma onda de frio. Além do mais, a possibilidade de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia — principais produtores globais de trigo — poderia aumentar a oferta mundial do cereal.

Por outro lado, a iminente entrada em vigor de tarifas impostas pelos Estados Unidos ao México pode gerar sobras no mercado internacional, uma vez que o principal destino das exportações de trigo norte-americano é o mercado mexicano. “A possível restrição das importações pelo México, que compra cerca de 3,5 milhões de toneladas de trigo dos Estados Unidos, deve aumentar os estoques e a disponibilidade. Então, tudo isso faz uma pressão para baixo”, afirma Pacheco. 

Ele acrescenta, também, aos fatores baixistas do mercado do cereal, a intenção de uma maior área plantada nos Estados Unidos em 2025/26, pressionando as cotações na bolsa de Chicago, mesmo diante da espera de uma produtividade inferior à da safra anterior.