AGRISHOW 2025
Pioneiros da Agrishow relembram história e fatos marcantes
Brazílio Neto trouxe a ideia dos EUA e de um modelo argentino; Celso Casale diz que agro brasileiro se divide entre antes e depois da Agrishow

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
25/04/2025 - 11:28

Aos 78 anos, o agricultor Brazílio de Araújo Neto orienta o trabalho do filho, que administra os negócios da família. Mas o ritmo as atividades é bem menos intenso do que no final da década de 1980 e início dos anos 1990, quando era presidente da Sociedade Rural do Paraná e sonhava com a realização de uma feira nos moldes da Farm Progress Show, dos Estados Unidos.
Morando atualmente em Curitiba (PR), acompanha os eventos do agronegócio brasileiro a distância. Mas se envolve inteiramente na conversa quando o assunto é a Agrishow, que ele idealizou e que chega, neste ano, entre os dias 28 de abril e 2 de maio, à 30ª edição.
O que talvez pouca gente saiba é que a proposta de uma feira com dinâmicas de campo, como foi a Agrishow durante muitos anos, foi inspirada, inicialmente, em um modelo argentino. Em 1987, ele soube que a Revista Chacra promovia, no país dos nossos hermanos, um evento parecido com o que queria implantar no Brasil.
Em 1989, já na presidência da Sociedade Rural paranaense, chegou a convidar empresas argentinas para uma feira no município de Sertanópolis (PR). “Nessa época, eu me interessava muito por esse tipo de evento. O Brasil tinha apenas alguns isolados, mas o que marcava as exposições eram os animais. O objetivo era ter algo voltado à tecnologia”, afirma.
Um ano antes da vinda dos argentinos, Brazílio tinha participado de uma festa promovida pela Massey Ferguson em Londrina (SP), onde, paralelamente à exposição das máquinas, houve um dia de campo. “Foi um sucesso. O Paraná estava começando a ser uma fronteira importante na produção de grãos”, conta o agricultor ao Agro Estadão.
Na terra do Tio Sam
Várias ideias pulsavam na mente de Brazílio até que ele foi aos Estados Unidos conhecer a Farm Progress, que era itinerante e incluía, na programação, dinâmicas para mostrar o funcionamento das máquinas. “Fui atrás dos detalhes da organização, para que pudesse trazer a experiência para cá”, diz.
Na volta ao Brasil, ele procurou o então presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Roberto Rodrigues, com o projeto formatado, em busca de uma parceria. Prestes a encerrar o mandato, Rodrigues disse que não conseguiria assumir o compromisso e indicou Pedro de Camargo Neto, então presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Brazílio até chegou a receber o apoio da SRB, mas de forma simbólica, porque a Rural não tinha recursos. “Foi então que resolvi realizar uma feira na própria fazenda da nossa família, em Londrina, com o nome de Expo Dinâmica. Mas, como este evento era no interior do Paraná, não tivemos força para atrair os fabricantes. Apenas representantes locais das marcas”, explica. O ano era 1992.

“No ano seguinte, em 1993, como a ideia é que fosse itinerante, como a dos Estados Unidos, fizemos em Uberaba (MG), por causa da importância da ABCZ [Associação Brasileira dos Criadores de Zebus]. Nesse caso, os fabricantes já compareceram”.
Para promover a terceira edição da Expo Dinâmica, o amigo Silvio Junqueira sugeriu Ribeirão Preto. E deu a ideia de tentarem um contato com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). “Fomos ao instituto, apresentamos o projeto e conseguimos a cessão da área onde hoje é a feira”.
Brazílio lembra que o envolvimento com eventos era tanto que ele tinha uma empresa para organizá-los. Mas o plano de manter a Expo Dinâmica não foi adiante. “Houve uma reunião que discutiu a possibilidade da Abimaq [Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos] assumir a feira. Logo depois, uma concorrência foi aberta para contratar uma empresa para organizar e acabamos ficando de fora”.
Brazílio declara que, na época, ficou incomodado, mas que superou o episódio. “Não tenho mais mágoa, mas orgulho de ter plantado uma semente. Costumo dizer que a Agrishow foi meu primeiro grande projeto”.
A memória em livro
O empresário Celso Casale, hoje presidente do Conselho Consultivo da Casale, empresa que participou da concepção da Agrishow e que nunca se ausentou de uma edição da feira, diz que faltou apoio ao projeto de Brazílio.
Casale, que atualmente é um dos vices-presidentes da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Abimaq — tendo já presidido o mesmo departamento —, escreveu um livro em que dedica um dos capítulos à trajetória da Agrishow. Em um dos trechos, afirma que “a feira [Expo Dinâmica] não tinha o apoio das principais lideranças empresariais e do setor agropecuário nacional, menos ainda das lideranças políticas ligadas ao agro, por isso deixou de existir”.

Em 1993, com a ideia de que a Abimaq assumisse a realização de uma grande feira nacional, foi convocada uma reunião na sede da associação que decidiu que Abimaq e a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) seriam sócias e que Ribeirão Preto seria a cidade-sede. O processo foi facilitado por Roberto Rodrigues, que ocupava, naquele ano, o cargo de secretário estadual da Agricultura e que propôs a realização por meio de um convênio com a recém-criada Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Eu mesmo fui voto vencido, porque achava que a feira tinha que ser mesmo itinerante. Mas depois me dei conta de que manter em uma cidade apenas era melhor, porque se poderia criar uma estrutura no local”.
De onde veio o nome da Agrishow?
Foi o próprio Casale que sugeriu que o evento se chamasse “Agrishow”. “Sempre tive muita facilidade em criar nomes. Durante a reunião, me veio essa ideia e, quando falei, todos ficaram em silêncio. Aí, teve uma votação e ‘Agrishow’ foi aprovado por mais de 90% dos presentes”.
No livro, o empresário menciona, ainda, um “grande percalço” na segunda edição, em 1995, causado pela empresa contratada para a organização. A má gestão financeira deixou um rombo de US$ 1,8 milhão. A Agrishow só não acabou porque a Abag e a Abimaq fizeram aportes financeiros e quatro empresas contribuíram com US$ 300 mil cada: Baldan, Marchesan, Jumil e Jacto.
“A Agrishow, tendo se tornado uma feira de sucesso, um modelo que deu certo, inspirou outras empresas e entidades a criarem feiras semelhantes Brasil afora e isso oxigenou com tecnologias o agro brasileiro”, escreve, em mais um trecho. Isso fez com que a própria Agrishow passasse a olhar mais para a própria estrutura voltada a receber os visitantes. “Antes, pensávamos apenas em expor as máquinas e garantir a presença dos bancos na feira. Mas, como algumas feiras pelo Brasil passaram a melhorar a estrutura, isso obrigou que a gente fizesse o mesmo”, diz ao Agro Estadão, reconhecendo que a Agrishow ficou para trás nesse quesito, mas tem melhorado ano a ano.
Para ele, o desenvolvimento do agro brasileiro pode ser dividido em antes de depois da feira. “A presença maciça de agricultores na Agrishow acelerou o processo de tecnificação da agropecuária, já que não é só uma mostra de máquinas, mas um ambiente de debates, discussões. As empresas também começaram um processo de competição saudável, para ver quem apresenta as melhores tecnologias, e quem saiu ganhando foi o agro”, afirma.

A própria Casale se beneficiou dessa expansão. “A Agrishow tem uma importância no desenvolvimento de todas as empresas que participaram. Se alguém falar que não teve é porque está mentido ou, então, não cresceu”, destaca.
O empresário só lamenta que as dinâmicas de campo tenham deixado de existir. No entanto, segundo ele, um possível retorno tem sido debatido dentro da Abimaq. “Eu mesmo torço para que elas voltem. O grande problema é o espaço. A feira cresceu muito em número de expositores e acaba tendo dificuldade de manter a parte dinâmica”, conclui.

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