AGRISHOW 2025
Expositores focam na oferta de veículos elétricos na Agrishow
Lançamentos de drone, caminhão-pipa e pá-carregadeira mostram que fabricantes apostam no crescimento desse mercado no agro brasileiro

Igor Savenhago*| Ribeirão Preto (SP)
04/05/2025 - 10:15

O modelo foi produzido para uso militar. Lembra um avião de caça. O que estaria, então, fazendo na Agrishow, em Ribeirão Preto, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina ?
O drone, 100% elétrico, foi exposto pela Xmobots, empresa brasileira, com sede em São Carlos (SP). É voltado para órgãos de defesa, como as polícias, para vigilância de fronteiras e perseguição a criminosos. Mas, segundo a empresa, tem potencial para despertar o interesse de produtores rurais.
É isso o que afirma Pedro Morais, consultor técnico de vendas da Xmobots. A expectativa é que o Nauru 100 D, nome dado ao equipamento, seja procurado por donos de terras justamente para ser usado na segurança das propriedades.
O drone é capaz de fazer reconhecimentos faciais, leitura de placas, contagem de pessoas e de veículos, e até identificação de objetos, como armas. Atinge velocidade de até 65 km/h e autonomia de voo de 30 km de raio a partir da base. A operação é toda automática, segundo Morais. Basta definir o roteiro, apertar um botão e o drone executa a missão sozinho. E, caso haja a necessidade de alterar a rota em pleno voo, é possível fazer isso manualmente.
A aposta no setor agrícola não é aleatória. Enquanto o Nauru 100 D, que pesa 8,6 quilos, chegou ao mercado há apenas um mês, a Xmobots tem outro dois modelos com funções semelhantes que já têm sido usados em fazendas: o Nauru 500, com 25 quilos, que também foi exposto no estande, e o Nauru 1000, com 180 quilos, que não foi levado para a feira porque ocuparia muito espaço – tem mais de sete metros de envergadura. Esses modelos, no entanto, são híbridos – com motor elétrico e à combustão.
Morais explica que cada tipo é ofertado em duas versões: o de uso estritamente militar e o civil, adaptado sem algumas ferramentas exclusivas das entidades de defesa. E que, no meio agrícola, pode ter, como alvos, além de monitoramento para prevenir roubos, o controle de fauna e flora, mapeamento de áreas e combate a incêndios.
Nesse aspecto, conforme a diretora comercial Thatiana Miloso, a empresa enxerga oportunidades no segmento florestal, que enfrenta um problema crônico com os incêndios em épocas de estiagem. “Muitos produtores precisam gastar milhões para a instalação de torres [para identificar áreas queimando] e, mesmo assim, a localização do fogo nem sempre é precisa, apenas estimada. O drone permite ir ao ponto exato”, argumenta Thatiana.
Mercado
A entrada de equipamentos elétricos no mercado direcionados especificamente ao campo está em expansão, com o lançamento recente de tratores e outras máquinas que dispensam o uso de combustíveis, mas ainda é considerada tímida por alguns fabricantes. Enquanto o boom não acontece, agricultores que estão de olho nas novidades buscam soluções em outros segmentos, como a mineração e a construção civil, além do militar.
Na avaliação de Renato Torres, diretor comercial da chinesa XCMG, há duas explicações possíveis para o crescimento ainda lento. A primeira é que as unidades rurais brasileiras não têm uma estrutura para receber os elétricos, como carregadores instalados, diferentemente da China, que dispõe de grandes áreas com energia fotovoltaica.
A segunda é que uma parte do agro ainda não está totalmente convencida de que elétricos serão uma tendência para os próximos anos. “As vendas de elétricos para o agro, apesar do aumento do interesse, ainda são incipientes em comparação com mineração e construção, por exemplo”, diz ele.

A própria XCMG anunciou, durante a feira, o lançamento de um caminhão-pipa elétrico, com capacidade para 15 mil litros. O modelo se soma a outros caminhões, a uma pá-carregadeira e a uma escavadeira que já faziam parte do portfólio da companhia. Com o veículo, a empresa espera aumentar o percentual de participação de elétricos em seu total de vendas – atualmente em 3%. “No caso do agro, a gente ainda percebe uma preferência pelo motor a diesel. Tanto que alguns fabricantes nem apostam nos elétricos. Mas isso tende a ir mudando e, cada vez mais, os equipamentos partirem para a eletrificação”, avalia Torres.
De zero a 20% em 5 anos
Outra chinesa, a LiuGong, também acredita nisso. Nos últimos anos, o setor agropecuário passou a representar cerca de 20% das vendas da companhia. “Era zero”, afirma o vice-presidente da LiuGong Brasil, Hebert Francisco. Para os próximos cinco, a meta é chegar a 30% ou 35%.
Junto com as expectativas positivas de números, vêm os lançamentos. Só para este ano, estão previstos mais de 100 para o agro. “E o Brasil está no top 3 dos países estratégicos para os negócios da empresa”, declara Francisco. Na Agrishow, o principal lançamento foi uma pá-carregadeira elétrica para atender o setor sucroenergético, com caçamba de 9 metros cúbicos e capacidade de carga de 5.800 quilos.
A máquina chamou a atenção do empresário e agricultor João Vicente do Vale, de Parauapebas (PA). Ele tem empresas nas áreas de locação de equipamentos agrícolas, pedreira, terraplanagem e construção, além de criar gado de corte. Pela segunda vez na Agrishow, foi em busca justamente de novas ferramentas. E acredita no custo-benefício das tecnologias chinesas. “Antes, se tinha muito preconceito com o que vinha da China. Hoje, não tem mais isso. O país domina o que o Brasil precisa para desenvolver o agro”, afirma Vale, que não atua na atividade canavieira, mas levaria a pá carregadeira para o Pará para uso em trabalhos na fazenda de gado e na pedreira.
O supervisor de produtos eletrificados da LiuGong, Rogério Pereira, que desenvolveu o sistema da máquina, explica que 15% da carga se regenera durante a operação, o que permite trabalhar por mais tempo sem a necessidade de recarga. E, mesmo quando é preciso parar, o reabastecimento total é feito em apenas 1h20. Outra característica é que a quantidade de horas trabalhadas só é contada com a carregadeira em movimento. “Se tiver parada, não conta. Nossos testes demonstraram que, enquanto a máquina elétrica marcava 800 horas trabalhadas, o modelo a diesel já estava em 1.200, um desgaste maior”, conta.

Com controle remoto
Para o mês de junho, a LiuGong prepara a entrega de um exemplar da máquina construída sob encomenda. O diferencial é que ela vai funcionar com controle remoto, sem a necessidade de piloto. “Foi uma demanda de um cliente que perdeu um de seus colaboradores em um acidente dentro de um silo. E ele nos consultou sobre alguma forma de tirar os pilotos lá de dentro, para não acontecer de novo”.
Por enquanto, o exemplar é único, mas, caso a experiência seja bem-sucedida, a empresa planeja lançá-lo comercialmente. “Se der tudo certo com o projeto, já temos uma fila de 150 pedidos”, garante Francisco.
*Jornalista viajou a convite da CDI Comunicação

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