AGRISHOW 2024
Agrishow 2024: Embrapa usa tecnologia médica em análises agrícolas de 30 segundos
Aplicação da Ressonância Magnética Nuclear (RMN) para analisar teor de óleo começou a ser pesquisada pela Embrapa na década de 1980, em São Carlos (SP)
4 minutos de leitura 01/05/2024 - 09:22
Igor Savenhago
Um equipamento que usa tecnologia de origem médica na agricultura é uma das principais atrações do estande da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na Agrishow, realizada em Ribeirão Preto (SP) até esta sexta-feira, 3. Em 30 segundos, ele consegue fazer análises de diversos tipos de alimentos, como soja, milho, amendoim, carnes e leites, medindo níveis de óleo, umidade, acidez, proteínas e impurezas.
O produto, com o nome de Specfit, chegou ao mercado por meio de uma parceria entre a Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), e a startup Fine Instrument Specfit (FIT), que nasceu dentro da própria Embrapa. Foi o know-how da startup que permitiu que os resultados de pesquisas iniciadas na década de 1980 fossem incorporados ao aparelho, cujos primeiros exemplares foram disponibilizados há seis anos, mas que continuam sendo aprimorados.
“Ele permite avaliar, inclusive, variações no mesmo alimento em fases diferentes: plantio, colheita, recepção, processamento e distribuição”, explica João Pedro Resende, representante da área comercial da FIT, ao Agro Estadão.
Para fazer as leituras, o Specfit utiliza o conceito da Ressonância Magnética Nuclear (RMN), método que permite visualizar, por meio de imagens, os órgãos internos do corpo humano. Basta uma pequena amostra colocada em tubos de ensaio e inserida no equipamento para obter os dados em um relatório.
Transferência de tecnologia da Embrapa ao produtor
Um grupo liderado pelo pesquisador Luiz Alberto Colnago passou a investigar a aplicação na análise de alimentos. Em 2008, o empresário e produtor de dendê em Santa Bárbara do Pará, Roberto Yokoyama, juntou-se aos pesquisadores. Ele buscava uma solução para que o fruto, que era comercializado por peso, tivesse uma mudança no sistema. Queria precificar o dendê pelo nível de óleo, como é feito com a indústria da cana, que remunera pelo teor de sacarose.
“O dendê verde tem cerca de 10% de óleo, o pré-maduro tem 18% e o maduro, 24%. Pagar todos da mesma forma privilegiava os produtores que não cuidavam do ponto de maturação e penalizava os que se preocupavam”, contou o produtor.
Informado por Colnago sobre os experimentos com ressonância magnética, Yokoyama decidiu apostar. Apoiou financeiramente o projeto e colheu benefícios. Com análises muito rápidas, conseguiu mudar o sistema de precificação do dendê, premiando os fornecedores que entregavam frutos com mais óleo.
No início, porém, ele enfrentou um desafio: o equipamento fazia apenas uma medição do total de óleo no fruto. Não fazia separação entre os índices da polpa e da amêndoa, o que exigia um cozimento prévio do fruto. Foram necessárias novas pesquisas para resolver a questão.
Antes da tecnologia, análises eram feitas em até 8 horas
Antes do Specfit, as análises demoravam, em média, oito horas para serem feitas, por meio de um processo químico, o que atrasava a avaliação da eficiência da extração de óleo. Agora, com medições de hora em hora, Yokoyama pode fazer correções para melhorar o processo quase em tempo real. Com isso, a eficiência passou de 80% antes do equipamento para pouco mais de 90%.
Além de produtores brasileiros, o equipamento já é usado em mais de 20 países. Ao todo, são 150 unidades em funcionamento. Os próximos passos são segmentar ainda mais as análises. Yokoyama, por exemplo, deve se beneficiar, em breve, de um software que permite saber quanto de ácidos graxos (gorduras) está presente nos frutos e relacionar essas informações com cuidados à saúde humana. “Existem variedades que não têm ácidos saturados, o que é mais benéfico”.
Amendoim
Outro produto que tem ganhado com a tecnologia é o amendoim, que carrega um alto teor de óleo – em média, 46%. A cultura, que conquistou espaço a partir da década de 1970 em consórcio com a cana, por causa da implementação do Proálcool, foi aos poucos perdendo força na comparação com lavouras de café, milho, soja, entre outras. Mas vem se recuperando.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país colheu, na safra 2022/23, 890 mil toneladas, contra 350 mil em 2013/14 – quase o triplo em menos de uma década. O Estado de São Paulo responde por 90% da produção.
Aproveitando o potencial do mercado, a Embrapa também está lançando, durante a Agrishow 2024, uma nova variedade: a BRS 427 OL, com ciclo de 130 dias e que, conforme o engenheiro agrônomo Jair Heuert, tem elevado teto produtivo, podendo atingir 7.500 quilos por hectare.
Com grãos graúdos e 75% de óleo, consegue manter, por mais tempo, suas qualidades originais, o que aumenta a vida útil nas prateleiras. “Outra característica interessante é que ele tem a película rosada, o que atrai as pessoas pelo visual”, afirma Heuert.
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